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Tabu, medo e desinformação: 43% das brasileiras não fazem exame ginecológico de rotina e colocam a saúde em risco. Dra. Lisandra fala sobre os motivos por trás da baixa adesão de jovens as consultas ginecológicas e o propósito que tem em tornar o consultório um lugar em que mulheres se sentem seguras.

O medo e a desinformação criam uma crise silenciosa na saúde da mulher: dados de 2024 (SISAB/ImpulsoGov) revelam que mais de 36 milhões de brasileiras entre 25 e 64 anos deixaram de realizar o exame de Papanicolau no período de três anos. A ginecologista Dra. Lisandra Radaelli alerta que essa negligência, motivada por tabus e por informações incorretas encontradas na internet, expõe milhões de mulheres a riscos desnecessários de câncer de colo do útero, ISTs e HIV.

A internet nem sempre é uma fonte confiável
Para a ginecologista Dra. Lisandra Radaelli (CRM/UF), a principal barreira é a percepção equivocada de saúde e a desinformação sobre a função da consulta de rotina.

“A grande maioria das mulheres que não vai ao consultório diz que se considera saudável e que tem tudo o que precisa de informação no celular e que não sente necessidade de ir ao ginecologista. Esse é um erro gravíssimo, pois a prevenção não espera o sintoma. Doenças como o câncer de colo do útero (altamente ligado ao HPV) ou mesmo o HIV podem ser assintomáticas por longos períodos. Se a mulher só procura ajuda na dor ou na queixa, perdemos a chance de um diagnóstico precoce e curativo,” alerta Dra. Lisandra Radaelli.

A resistência é particularmente forte entre as jovens: embora a recomendação da Febrasgo e da Sociedade Brasileira de Pediatria seja iniciar o acompanhamento entre 13 e 15 anos, a média da primeira consulta no Brasil ainda é tardia, por volta dos 20 anos.

Quebrando o silêncio: medos e tabus
A pesquisa Febrasgo/Datafolha (2019) e estudos recentes apontam que a não adesão é motivada por fatores emocionais e logísticos.

  • Falta de acesso/logística: dificuldade de agendamento no SUS e a ausência do especialista (citado por cerca de 12%) ou falta de tempo (Agência Brasil/Jornal da USP).
  • Medo e vergonha: a vergonha e o medo da dor/desconforto durante o exame (Papanicolau) são fatores-chave que levam as mulheres a adiar ou abandonar a rotina (Agência Brasil; Medicina S/A).
  • Trauma e preconceito: o desacolhimento em consultório, especialmente o preconceito contra mulheres lésbicas e bissexuais, gera trauma e abandono do acompanhamento (TNH1, 2023).

A Dra. Lisandra enfatiza que o acompanhamento ginecológico é um momento de educação e acolhimento. “Nosso papel como profissionais da área, começa muito antes do Papanicolau. Antes de ser médica, sou uma mulher, que entende o que outras mulheres passam, essa convicção me move a tornar sempre o consultório um lugar seguro para a adolescente ou a mulher tirar dúvidas sobre sexualidade, métodos contraceptivos, ISTs e vacinação. As jovens precisam saber que, por lei, têm o direito de entrar sozinhas a partir dos 14 anos e que o médico tem o dever do sigilo” afirma.

Ela reforça que, combater o medo e o tabu é dever dos profissionais de saúde e da comunidade, para quebrar a desinformação que leva diversas mulheres a recorrerem a meios não confiáveis, que coloca suas vidas em risco.

A consulta de rotina, que deve ser anual, é a principal ferramenta da Prevenção Combinada, permitindo o diagnóstico precoce de HIV, a vacinação contra HPV e a orientação adequada sobre PrEP e PEP.

Fontes e Referências dos Dados: ImpulsoGov/SISAB (2024), APM, Febrasgo/Datafolha (2019), Agência Brasil, Jornal da USP, Medicina S/A, TNH1, Estado de Minas.

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